O aprendizado é um processo complexo e fascinante, impulsionado por uma interação intrincada de fatores. A neurociência tem proporcionado uma visão valiosa sobre como nosso cérebro adquire e processa informações, revelando que diversos elementos influenciam nosso aprendizado.
De acordo com a neurociência, aprender é um processo que envolve a modificação das conexões entre os neurônios no cérebro. Quando uma nova informação é aprendida, as conexões entre os neurônios são modificadas de forma que a informação possa ser armazenada e posteriormente recuperada.
Além disso, a neurociência destaca a importância da plasticidade cerebral para o aprendizado. A plasticidade cerebral se refere à capacidade do cérebro de mudar e se adaptar em resposta a estímulos e experiências.
Isso significa que a crença de “não nascer com um cérebro para aprender física”, ou “não tenho habilidade para aprender um instrumento musical” é falsa! Não se trata de apenas acreditar no próprio potencial, mas entender que, fisiologicamente, nosso cérebro é maleável o suficiente para aprender e crescer com os erros, ou seja, saber que inteligência é algo mutável, e não predeterminado.
Mas afinal, quais são os mecanismos que interferem no que aprendemos?
1. Foco Atencional
É um mecanismo ativo do cérebro em que ele prioriza o processamento de uma informação específica excluindo ou minimizando a interferência de outros estímulos irrelevantes. Em outras palavras, é a capacidade de se concentrar em uma determinada tarefa, ao mesmo tempo em que se ignora ou minimiza as distrações do ambiente circundante.

O foco atencional é uma habilidade fundamental que envolve o processamento da informação, a interpretação de dados e a utilização do conhecimento para realizar diversas atividades, como estudos, trabalho, esportes e até mesmo atividades cotidianas.
Quando você está muito engajado numa tarefa, um sinal químico é liberado no cérebro chamado acetilcolina. Ela ajuda o cérebro a ter foco e priorizar uma informação em detrimento das outras. No momento em que somos capazes de manter o foco em uma tarefa, podemos aumentar nossa produtividade, melhorar a qualidade do nosso trabalho e alcançar nossos objetivos com mais eficácia.
2. Motivação
É uma “força” ou uma “energia interior” que nos impulsiona a agir em direção aos nossos objetivos e metas. Essa força não é mágica ou esotérica! Assim como o foco atencional está associado a liberação da acetilcolina, a motivação também está associada a mudanças químicas que acontecem no nosso cérebro, especificamente em um conjunto de células chamado de sistema dopaminérgico.
Dopamina é um sinal químico produzido pelo cérebro que ajuda a transmitir sinais entre as células nervosas. Quando ela é liberada, ficamos mais motivados a fazer alguma coisa, inclusive prestar atenção e aprender algo.
Esse sinal químico é uma das formas que nosso cérebro tem de dizer que determinada informação é importante. Quando estamos muito curiosos em aprender (um assunto novo que vai te ajudar muito alcançar seus objetivos, por exemplo), o nosso cérebro vai liberar a dopamina, fazendo com que fique mais fácil prestar atenção no que estamos aprendendo.

A dopamina que é liberada por estarmos motivados ajuda o cérebro a saber o que é relevante e, essas informações adquiridas neste contexto, vão ser mais consolidadas, ficando mais firmes no cérebro. Em outras palavras: o cérebro vai marcar essas informações como importantes tronando-se mais fácil adquiri-las.
Não subestime a importância da motivação! No contexto do aprendizado, é muito difícil você aprender algo novo sem ter alguma motivação, uma vez que os circuitos envolvidos com foco atencional ficam muito prejudicados e o processo de formação de memória também.
Qualquer que seja o motivo (ir bem em uma prova, passar num concurso, ganhar dinheiro, aprender um novo idioma, etc.) a dopamina liberada é muito importante tanto para você formar memórias novas como consolidar essas memórias no cérebro.
3. Grau de Alerta
Quão bem você vai conseguir aprender um assunto novo, lendo um texto por exemplo, se você for ler no horário em que você está com sono em comparação ao horário que você está muito alerta? Quando você está muito alerta o ambiente químico do seu cérebro é muito diferente do quando estamos sonolentos ou quando a gente está dormindo.

O sinal químico que está relacionado ao nosso grau de alerta é a noradrenalina. Ela é liberada quando estamos excitados, agitados, quando alguma coisa importante acontece, quando estamos com medo ou assustados. A liberação desse sinal químico tem como efeito aumentar o padrão de atividade das células, deixando-as mais ativas favorecendo o aprendizado.
4. Qualidade do sono
O sono é fundamental para tudo o que você faz. Todos os aspectos da sua vida são afetados pelo sono, inclusive o aprendizado.
Ele é muito importante para restaurar funcionalmente os circuitos do cérebro, inclusive aqueles relacionados à aprendizagem: foco atencional, motivação e grau de alerta. Esses circuitos são restaurados em boa parte durante o sono.

Então, se você não dormir bem, eles não vão funcionar direito, ou seja, o seu foco atencional vai ficar prejudicado, sua motivação e naturalmente seu grau de alerta, porque você dormiu pouco ou mal.
Além disso o sono é muito importante por um processo chamado de consolidação da memória. Ela funciona em duas etapas:
1ª Etapa – codificação: é o momento em que você adquire uma nova informação;
2ª Etapa – consolidação: é o momento em que essa informação vai ser ou não consolidada.
Esse segundo processo, que deixa a memória mais firme, ocorre em boa parte, quando estamos dormindo. Porém, a consolidação começa a ocorrer enquanto estamos acordados, especialmente em momentos em que estamos relaxados, sem estar focado ou engajado em alguma coisa.
Esses momentos de relaxamento são bastante interessantes também para o aprendizado, bem como fazer pausas em momentos certos do dia e do jeito certo.
5. Emoções
Nossas emoções afetam muito o aprendizado. Na verdade, as emoções, de modo geral, vão influenciar nos quatro parâmetros citados anteriormente. Quando você fica muito emocionado, seu foco atencional, motivação e seu grau de alerta vão mudar e, talvez até o seu sono possa se alterar por conta das emoções.
Emoções podem ser úteis ou atrapalhar o aprendizado dependendo da emoção e do contexto.

Digamos que você está assistindo a uma aula cujo um assunto você acha interessante. Depois dessa aula o professor avisa que vai aplicar uma prova e, se você for mal, será reprovado.
Naturalmente você vai ficar ansioso e isso vai gerar um certo estresse no seu corpo. A resposta do seu cérebro é liberar vários sinais químicos, entre eles o cortisol (hormônio do estresse), a dopamina, a noradrenalina e acetilcolina.
Isso pode ser interessante para o aprendizado porque essas mudanças químicas vão modular os circuitos do cérebro envolvidos com o foco, motivação e grau de alerta, informando ao cérebro que as informações aprendidas na aula são ainda mais importantes, pois agora você precisa aprender para fazer a avaliação.
É claro que se o estresse for muito grande isso pode atrapalhar. De modo geral, o fato de o professor colocar uma avaliação ao final da aula, por exemplo, pode gerar uma resposta emocional positiva. Os alunos vão ficar mais motivados a entender aquele conteúdo porque, em breve serão avaliados.
Agora vamos pensar um segundo cenário em que você está tendo essa mesma aula e não vai ter que fazer a avaliação. Suponha agora que você recebeu uma mensagem do seu namorado dizendo que ele vai terminar com você. Naturalmente você vai ficar ansioso e estressado.
Isso vai gerar a mesma resposta emocional, as mesmas mudanças químicas vão ocorrer, só que agora o foco é outro, o seu namorado. Então, nesse contexto, essa resposta de estresse e ansiedade não vai ser interessante para o aprendizado daquilo que está sendo ensinado naquela aula.
Quanto emoções vão ser úteis para o aprendizado? Depende do contexto. O fato é que elas afetam o aprendizado justamente porque elas mexem com os quatro parâmetros iniciais.

O aprendizado é um processo complexo regido por vários fatores neurobiológicos. Compreender e considerar esses fatores em nossa jornada educacional pode levar a resultados mais efetivos, tornando nosso aprendizado mais significativo, duradouro e eficaz. Como seres em constante evolução, devemos aproveitar os conhecimentos oferecidos pela neurociência para aprimorar nossa habilidade inata de aprender e expandir nossos horizontes.

Porém, se você precisa de mais orientações, confira o conteúdo do post “Como aprender de forma mais eficiente? ou acesse a categoria “Dicas de estudo” e confira conteúdos relacionados.
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Bons estudos!
Prof. Tiago JP
Texto baseado no podcast “A culpa é do Cérebro” do professor e pesquisador Dr. Andrei Mayer: Episódio 7 – Como o cérebro realmente aprende e o que podemos fazer para aprender mais e melhor.